Tratando a espasticidade com "bombas" de Baclofeno
- Dr. Andre B. Bissoli
- 18 de jul. de 2022
- 2 min de leitura
Título um pouco esquisito, não é mesmo?
A espasticidade é uma manifestação involuntária que surge normalmente após uma lesão neurológica no cérebro ou na medula espinhal. Essa lesão pode acontecer por conta de um AVC, um sangramento, uma contusão, ou mesmo uma doença inflamatória ou autoimune como a esclerose múltipla. É muito vista também em crianças com graus variados de paralisia cerebral.
Observamos nos membros atingidos uma resposta exagerada ao estiramento, bem como aumento da rigidez da musculatura, criando limitações para os movimentos e dificuldades até mesmo para receber cuidados mais básicos de higiene. A reabilitação neurológica, com fisioterapia e terapia ocupacional, também se torna mais difícil.
Para casos assim, temos algumas opções de tratamento. A mais simples é a administração via oral de Baclofeno, um medicamento que age no sistema nervoso central diminuindo a espasticidade. O problema é que mais de 80% dele não chega até o cérebro e a medula, o que significa que precisamos de doses altas pra conseguir alguma melhora da espasticidade.
É aí que entra a opção de administrar essa mesma medicação diretamente em volta da medula espinhal ou mesmo dentro do cérebro, com um cateter ligado a um reservatório que bombeia a medicação. Tudo fica implantado por baixo da pele, e os ajustes da dosagem são todos realizados por um tablet ligado a um transmissor sem fio. Assim, temos uma dosagem necessária cerca de 300x menor, com muito menos efeitos colaterais quando comparada à medicação oral.
Para saber se essa será uma boa opção, antes do implante realizamos em uma outra internação testes para infundir a medicação no líquido que fica em volta da medula, através da famosa punção lombar (aquele líquido que sai da coluna quando colocamos uma agulha). Se a espasticidade melhorar e o paciente não apresentar efeitos adversos, aí sim podemos indicar o implante da famosa "bomba"infusora.
A cirurgia para implante é feita com anestesia geral. Implantamos primeiro o cateter na coluna, subindo em volta da medula espinhal, e depois ligamos por baixo da pele até o reservatório eletrônico que fica geralmente no subcutâneo da barriga. A internação dura só um ou dois dias após a cirurgia, quando é dado alta para casa.

Aqui vemos o reservatório que armazena e distribui a medicação sendo preenchido durante a cirurgia para implante. Por essa porta na lateral é conectado um cateter que leva a medicação para o compartimento do cérebro e medula espinhal, tratando a espasticidade.
A medicação dura cerca de seis meses, quando é necessário fazer um refil do reservatório usando uma seringa e agulha. A bateria do dispositivo dura cerca de 7 a 8 anos. Quando ela está para acabar, é necessário fazer uma cirurgia menor para que troquemos o reservatório por inteiro, usando o mesmo cateter que vai para a coluna.
Você já tinha ouvido falar desse dispositivo e dessa cirurgia? Conhece alguém que poderia se beneficiar?
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