Neuralgia do Trigêmeo: o que fazer?
- 1 de ago. de 2022
- 3 min de leitura
Uma das piores dores já descritas em diferentes momentos da história humana, a Neuralgia (ou nevralgia) do Trigêmeo é um desafio tanto para o paciente quanto para seu médico. É descrita, classicamente, como uma dor em choque, da pior intensidade possível, que aparece em surtos e atinge diferentes regiões da face, geralmente de um lado só. Ela tem ainda gatilhos como escovar os dentes, mastigar, exposição ao frio (seja vento ou mesmo líquidos e alimentos), contatos na pele e até mesmo o ato de conversar!
O nervo trigêmeo é o responsável pela sensibilidade da face, desde um pouco para trás da linha do cabelo até um pouco abaixo da linha da mandíbula, e tem três divisões: oftálmica (V1), maxilar (V2) e mandibular (V3). Estas divisões aparecem a partir de um gânglio, uma nodulação onde o nervo que era único se conecta a outros neurônios para se continuar até a face. O mais comum é vermos as queixas de neuralgia justamente nas divisões V2 e/ou V3.

Territórios da sensibilidade da face com os pontos mais acometidos pela neuralgia do trigêmeo (fonte: N Engl J Med 2020; 383:754-762)
Existem diversos tipos de Neuralgia do Trigêmeo, sendo a clássica aquela que eu descrevi ali em cima, também chamada de típica. Existe também a neuralgia atípica, quando algumas características mudam (duração, recorrência, intensidade da dor). Elas acontecem, na maioria das vezes, por causa de um contato entre uma artéria e o nervo trigêmeo próximo à sua origem, lá perto do tronco cerebral. O contato frequente causa uma lesão na capa do nervo, que começa a disparar sinais de dor sem que haja um estímulo doloroso para isso.

Balão sendo inflado na cavidade do gânglio trigeminal (acervo pessoal).
Existe também a dor neuropática por lesões do nervo trigêmeo, sejam elas causadas por algum procedimento cirúrgico ou mesmo pelo crescimento de tumores, ou até mesmo por um surto de esclerose múltipla. Neste artigo, vou falar um pouco mais sobre o tratamento da neuralgia típica, a mais clássica e geralmente apresentada.
É importante falar, antes de mais nada, que a grande maioria dos pacientes (quase 90%) com Neuralgia do Trigêmeo fica bem apenas usando medicamentos, sem a necessidade de intervenções cirúrgicas. Preferimos fármacos como a carbamazepina, oxcarbazepina, baclofeno, gabapentina, entre muitas outras que podem ser utilizadas.
Se já tivermos utilizado algumas destas medicações e a dor continuar a incomodar, aí sim pensaremos em intervenções com diferentes graus de complexidade. Podemos considerar, por exemplo, uma lesão daquele gânglio que eu mencionei anteriormente, usando uma agulha com uma ponta que emite calor (a famosa radiofrequência). Podemos também utilizar uma agulha pela qual passa um cateter com um pequeno balão inflável em sua ponta, o qual comprime o mesmo gânglio por alguns minutos e assim provoca sua lesão. Podemos até mesmo injetar alguma substância pela mesma agulha, como o glicerol. Todos estes métodos são pouco invasivos e podem inclusive ser repetidos. Possuem uma taxa de sucesso que varia de 50 a 80% - ou seja, de ausência de dor em até 10 anos.
A cirurgia para descompressão neurovascular é um pouco mais invasiva. Usando anestesia geral, fazemos um pequeno corte atrás da orelha e depois uma pequena abertura, por onde vemos o nervo saindo do tronco cerebral e indo em direção à face, sendo comprimido por uma das artérias próximas a ele. Ali colocamos uma pequena "almofada" entre os dois, cessando assim o contato entre eles. A taxa de sucesso é mais alta, com cerca de 85% dos pacientes livres de crises por mais de 10 anos.
Todos estes procedimentos têm seus prós e contras. Os realizados de forma percutânea, por exemplo, podem ser desconfortáveis e deixar a face dormente no pós-operatório, com riscos inclusive de lesões na pele e na córnea. A cirurgia tem riscos de paralisia facial ou mesmo de sangramentos, AVC e infecção. Se bem executados, no entanto, essas chances são baixas e compensadas pelo benefício de se livrar de uma dor tão excruciante como a Neuralgia do Trigêmeo. A escolha do procedimento a ser realizado parte tanto do médico quando do paciente e seus familiares, após expostas as informações e feita uma avaliação cuidadosa.
Você sabia que havia tantas opções para tratar essa dor? Conhece alguém que sofre com esse problema? Conte para mim nos comentários! Aproveite para tirar quaisquer dúvidas!
Commentaires